
Qual a diferença entre sexo e género? Quando é um problema?
Existe diferença entre sexo e género, sendo que o primeiro se refere às características físicas de nascimento (masculinas/femininas) e o segundo diz respeito à identificação pessoal baseada no género da pessoa (identidade de género).
Os papéis sociais são, socialmente, baseados no sexo de uma pessoa (papéis de género). Nascemos com características genéticas e físicas que nos “enquadram” em homem ou mulher. Essas características físicas assumem, para a sociedade e família, estereótipos comportamentais. Não à-toa espera-se que mulheres ajam de uma forma, enquanto se espera que homens atuem de outro jeito. No entanto, nem sempre nos identificamos com essa “classificação”.
Muito embora se trate de preconceitos, eles existem e devem ser olhados como reais nos tempos modernos (apesar de haver um esforço em contrário). Por isso, cientistas sociais e de comportamento, assim como biólogxs e vários organismos legais e governamentais, já assumem a distinção entre sexo e género, exatamente por haver pessoas cujo sexo de nascimento não é o mesmo que o seu género identitário.
Qual a diferença entre sexo e género?
O sexo diz respeito às características sexuais de uma pessoa à nascença, sendo que é atribuído por profissionais de medicina com base nos órgãos sexuais (sem considerar a identidade de género, impossível de definir à nascença).
Este é, geralmente, classificado entre masculino e feminino, embora também exista a classificação de intersexo (pessoas que desenvolvem características sexuais que não se encaixam em noções de sexo feminino ou masculino. Existem entre 0,05 e 1,7% de pessoas intersexo, de acordo com a ONU).
Assim, o sexo refere-se a diferenças biológicas.
Diferenças entre sexo masculino e feminino |
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Masculino |
Feminino |
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Configuração cromossómica |
XY |
XX |
Anatomia externa |
Testículos e pénis |
Vulva |
Processo hormonal |
Maior quantidade de testosterona e androgénios |
Maior quantidade de estrogénio e progesterona |
O género diz respeito a um conjunto de características que pertencem e diferenciam a masculinidade, feminilidade, neutralidade e androginia. Falamos, aqui, de como a pessoa se caracteriza, tendo influência o seu sexo biológico, estruturas sociais baseadas no sexo, assim como o papel social de género e a identidade de género.
Assim, o género refere-se a comportamentos, papéis, atividades e atributos construídos socialmente, sendo estes considerados apropriados para “homens” e para “mulheres”. Quando o género se encontra alinhado com o sexo, falamos de pessoas cisgénero (cis).
Em algumas circunstâncias, o sexo biológico e o género não são os mesmos. Falamos, aqui, de pessoas transgéneras ou não binárias, por exemplo.
A transgeneridade pode levar a um conflito interno muito grande, uma vez que as pessoas transgéneras se sentem no corpo errado, por não estarem “alinhadas” com o sexo biológico. Por essa razão, muitas procuram a cirurgia de transição de género e fazem tratamentos hormonais para alterarem a sua imagem.
Quando a classificação “sexo e género” se torna um problema?
A classificação de sexo e género, tal como a conhecemos, é sempre binária. Coloca-nos a ideia de que os padrões cisgénero são normativos e, portanto, acabamos por ser tendenciosos e preconceituosos.
Por exemplo, falarmos em género feminino impõe, sempre, uma padronização de comportamentos destas pessoas. Não deixamos espaço para que estas possam sentir e agir de forma fluida, como se o facto de serem mulheres cis não lhes permitisse ser e estar da forma como querem.
É certo que a maioria das pessoas não encontra esses problemas, até porque o género é uma das melhores construções sociais que temos. Desde que nascemos, vamos interiorizando formas de agir e pensar, levando-nos a crer que é assim que somos. Não nos questionamos com frequência. No entanto, não deixa de ser uma construção social.
Nesse sentido, vários movimentos (especialmente aqueles conduzidos por queers) têm demonstrado desagrado a esta classificação binária de sexo e género (muito embora continuemos a usar estes conceitos social e cientificamente).
Tendo em conta a crescente abertura para novos géneros, havendo maior debate sobre a cisnormatividade, e sabendo que a sociedade evolui com o tempo, é possível que os conceitos de sexo e género venham a sofrer alterações, permitindo uma visão não-binária deste universo complexo.