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O que é ser não binário?

O termo não binário envolve uma série de identidades de género, mas, na sua essência, diz respeito a pessoas que não se identificam exclusivamente como homem ou mulher. 

Tradicionalmente, a sociedade reconhece apenas duas identidades de género (mulher e homem). No entanto, nas últimas décadas, tem-se ampliado significativamente a aceitação e compreensão da diversidade de identidades de género. 

Nota: Identidade de género não é o mesmo que o sexo de nascença. A primeira diz respeito à forma como te identificas com o teu género (se te sentes mulher, homem, ambos, ou nenhum deles), enquanto a segunda consiste nos fatores biológicos com que nasces.

Sendo a identidade de género uma parte fundamental da experiência humana, entender, compreender e aceitar a diversidade é essencial para todxs termos uma vida plena e feliz. 

O que é ser binário e ser não binário?

Pessoas binárias são aquelas que se encaixam nas categorias tradicionais de género masculino e feminino, sendo que estas se baseiam nas características biológicas de nascença. 

O género binário refere-se, então, ao sistema cultural e social que reconhece somente duas identidades de género (homem e mulher), em que cada uma tem características, papéis e expectativas específicos. 

Assim, alguém que se identifica, única e exclusivamente, como homem ou como mulher, é uma pessoa binária. 

Quando falamos de pessoas não binárias, envolvemos várias identidades de género. O que elas têm em comum? Não se identificam exclusivamente com o género feminino ou masculino e podem não se encaixar completamente nas categorias tradicionais de género. 

Assim, não binárixs podem identificar-se como:

Género fluido

Estas pessoas têm uma identidade de género fluida, ou seja, não é estática ou permanente e pode fluir ao longo do tempo. Existem momentos em que se sentem mais masculinas, outros em que se sentem mais femininas, e outros momentos em que se sentem quase que “no meio da ponte”. 

Agénero

Uma pessoa agénero não tem uma identidade de género específica. Há quem se identifique como agénero por considerar não ter nenhum género. Para pessoas agénero, a noção e conceito de género não é relevante para a sua identidade pessoal. 

Nonpuer ou Nonpuella

Nonpuer e nonpuella são termos atuais com origem nas palavras latinas: non (não), puer (criança rapaz) e puella (criança rapariga). Assim, pessoas que se identificam como nonpuer ou nonpuella rejeitam os papeis tradicionalmente associados à infância masculina e feminina.

Queer

O termo queer, embora historicamente usado como um insulto, foi ressignificado por movimentos LGBTQIAP+ e adotado por algumas pessoas não binárias para descrever uma identidade de género que rejeita as categorias tradicionais de género e que abrange a diversidade de identidades de género e orientações sexuais. 

  • Identidade aberta e inclusiva — Uma pessoa que se identifique desta forma pode apenas rejeitar rótulos específicos, como “homossexual”, “bissexual” ou até mesmo “não binário”. Trata-se de alguém que prefere termos mais abrangentes e que permitam a fluidez. Inclui-se aqui, então, qualquer identidade de género que desafie as normas heteronormativas e cisnormativas. 
  • O termo queer também pode descrever uma postura política ou cultural, questionando-se as normas impostas pela sociedade no que respeita ao género e à sexualidade. 

Género neutro

Pessoas que se identificam com o género neutro, também chamadas de neutrois, têm uma identidade de género verdadeiramente neutra. Elas não se identificam com as categorias de masculino ou feminino. 

Andrógino

Pessoas que se consideram andróginas têm uma identidade de género que mistura características dos dois géneros tradicionalmente reconhecidos (masculinas e femininas). 

Ao contrário das pessoas queer ou das neutrois, as andróginas podem sentir-se confortáveis em expressar elementos tradicionalmente associados aos dois géneros.

Demigénero

As pessoas demigénero identificam-se parcialmente com um género, embora não se sintam plenamente alinhadas com ele. Assim, estas pessoas apenas se identificam parcialmente com os géneros feminino ou masculino, denominando-se de demimenino ou demimenina. 

Transgénero

Pessoas transgénero não de identificam com o seu género de registo (aquele atribuído à nascença). Uma pessoa transfeminina nasceu com a anatomia masculina, mas identifica-se com o género feminino. Já uma pessoa transmasculina nasceu com anatomia feminina, mas identifica-se com o género masculino. 

Nota que nem todas as pessoas transgéneras são não binárias. No entanto, algumas pessoas não binárias podem identificar-se como transgéneras, pois a identidade de género difere do género atribuído com o nascimento, uma vez que não se identificam nem como homens, nem como mulheres. 

Xenogénero

Xenogénero é um termo que descreve identidades de género que fogem das categorias tradicionais, podendo não ser definidas em termos humanos ou sociais. Assim, estamos a falar de formas não convencionais e criativas de expressar e sentir o género. 

Pessoas xenogénero associam, frequentemente, o género a conceitos abstratos, emoções, elementos da natureza e ideias. Elas permitem-se explorar identidades de género sem limites impostos por normas culturais ou pela linguagem tradicional. 

Pessoas neurodivergentes, como aquelas com autismo, por exemplo, podem encontrar conforto no xenogénero. 

Este é um termo que pode desafiar o entendimento tradicional, mesmo entre xs não binárixs. No entanto, ele é válido para quem o adota, merecendo o nosso respeito e a nossa aceitação. 

Não binariedade: um fenómeno recente?

Apesar de ser um tema que só recentemente foi palco na discussão pública, este é um fenómeno muito comum em diferentes momentos da história da humanidade. Várias civilizações reconheceram a existência de outras identidades de género que não as tradicionais.

Os mahu, da Polinésia, por exemplo, são pessoas com identidade de género ambígua. Têm características masculinas e femininas, misturando ambos os géneros. 

Os povos originários da América do Norte são exemplo, também, de não binariedade. Nas tribos era comum encontrarmos pessoas que se identificavam como Two Spirit (Dois Espíritos), ou seja, elas tinham o espírito feminino e masculino dentro de si. Muitas vezes, estas pessoas ocupavam um lugar espiritual e social único, sendo respeitadas como líderes, artistas ou curandeirxs. 

Os hijras, na cultura indiana, têm uma história de mais de 4 000 anos, e podem ser encontrados em textos antigos, como o Mahabharata. Trata-se de uma comunidade de pessoas transgéneras, intersexo e não binárias. Embora, hoje, sejam marginalizados, ainda desempenham papeis espirituais e culturais, como abençoar nascimentos. 

Muitas sociedades africanas tinham conceções fluidas de identidade de género antes da colonização europeia. Por exemplo, entre os chokwe, de Angola, algumas figuras espirituais fogem dos géneros binários. Também os igbo, da Nigéria, tinham papéis sociais e espirituais que não ficavam limitados ao género biológico. 

A importância da linguagem neutra para o género não binário

Muitas línguas, como a portuguesa, são binárias, tendo substantivos e pronomes masculinos e femininos. Para pessoas com género não binário, esta linguagem pode não ser considerada inclusiva, uma vez que podem não reconhecer a sua identidade de género. 

Assim, há uma tentativa de introduzir uma linguagem neutra e inclusiva (adotada, inclusive, no Plano AproXima). Para substituir as formas de marcação de género, como o “a” e o “o”, aqui usamos a letra “x”, embora se possa usar também o símbolo “@” ou a letra “e”. 

Cada pessoa é única na sua identidade de género, não havendo regras estreitas e rígidas para as categorizar. No que respeita a identidades de género não binárias, dois valores fazem-se sentir mais fortes: respeito e inclusão. 

É essencial que governos e atores políticos e sociais promovam uma compreensão profunda das questões de identidade de género, pois só assim conseguimos ter uma sociedade mais inclusiva.